Orar requer mais coragem do que piedade

Esperar por Deus não significa que eu não tenha mais nada que fazer na vida espiritual, senão orar. A oração não é um casulo. Não entramos em oração, esperando simplesmente sair dela, na outra ponta do exercício, completamente amadurecidos no espírito, perfeitamente novos, totalmente acabados. Com todas as impurezas removidas. Limpos de toda a ferrugem. Com o coração renovado. A alma brilhante e radiante. A mente clara e cheia de certezas.
De forma nenhuma. Há demasiadas coisas nossas em nós, para que todas desapareçam. Nem deve ser assim. Não, a função da oração não é esquecer o ego. É conformar-nos com a versão superior que devemos ser, independentemente da situação em que nos encontramos. A oração é o processo que nos leva a tornarmo-nos mais parecidos com o modelo que Jesus cria para nós.
Orar não significa deixarmos de ser nós próprios. Significa, simplesmente, chegarmos a conhecer, claramente, o que é que temos de fazer para nos parecermos mais com a imagem de Jesus que devemos ser.

A oração confronta-nos connosco próprios e mede a distância entre quem e aquilo que somos, e quem e aquilo que Jesus é.
Observamos Jesus a confrontar as autoridades do tempo dele. Ordena aos sacerdotes e aos fariseus que limpem o templo e tirem das costas do povo as leis da sinagoga que o sobrecarregam. Ele ordena aos governantes que parem de viver à custa dos pobres. E chama-nos a fazer o mesmo!
Escutamos Jesus a pôr em risco a sua aprovação social, a arriscar a sua própria vida, ao falar em público contra a opressão do povo, quer pela sinagoga, quer pelo Estado. E pede-nos para fazer o mesmo!
Estar imersos na oração, realmente imersos na oração, queima as nossas almas. Força-nos a ver quão longe estamos ainda dos nossos próprios ideais. Desafia as imagens de bondade, piedade e integridade que projetamos.
Confronta-nos com o que realmente significa viver uma vida boa. Requer de nós coragem, mais do que simplesmente piedade.
Diz-nos, uma e outra vez: «Vem, segue-me!»
É no seguimento de Jesus, que desce do cimo da montanha ao longo das estradas do mundo, pelos locais públicos da cidade, até aos bairros de lata dos pobres, aos átrios dos governos e aos cartórios das igrejas, dizendo com João Batista: «Arrependei-vos e não volteis a pecar», que a oração recebe o seu selo de credibilidade indiscutível.

Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas

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