O PAPA EM FESTA COM AS FAMÍLIAS DO MUNDO
2. SERGE RAZAFINBONY E FARA ANDRIANOMBONANA (um par de noivos de
Madagáscar):
SERGE: Santidade, somos Fara e Serge, e vimos de Madagáscar.
Conhecemo-nos em Florença, onde estamos a estudar – eu engenharia, e ela
economia. Iniciámos o noivado há quatro anos e sonhamos, logo que fizermos o
doutoramento, voltar ao nosso país para dar uma mão ao nosso povo, inclusive
através da nossa profissão.
FARA: Os modelos de família que predominam no Ocidente não nos
convencem, mas estamos cientes de que também muitos tradicionalismos da nossa
África precisam de ser em certa medida superados. Sentimo-nos feitos um para o
outro; por isso queremos casar e construir um futuro juntos. Queremos também
que cada aspecto da nossa vida seja orientado pelos valores do Evangelho.
Mas, falando de matrimónio… Santidade, há uma palavra que, mais do que
qualquer outra, nos atrai e ao mesmo tempo nos assusta: aquele «para sempre»...
PAPA: Queridos amigos, obrigado por este testemunho! Contai com a
minha oração neste caminho do noivado e espero que possais criar, com os
valores do Evangelho, uma família «para sempre». A Fara aludiu a diversos tipos
de casamento: conhecemos o «
mariage coutumier» da África e o casamento
ocidental. Mesmo na Europa – verdade seja dita –, até ao século XIX,
predominava um modelo de casamento diverso do actual: muitas vezes o casamento
era, na realidade, um contrato entre clãs, no qual se procurava manter o clã,
abri-lo ao futuro, defender as propriedades, etc. A escolha dos noivos era
feita pelo clã, esperando que as coisas funcionassem um com o outro. E assim
sucedia, em parte, também nos nossos países; lembro-me duma cidadezinha, aonde
fui à escola, que as coisas ainda se passavam em grande parte assim.
Entretanto, com o século XIX, vem a emancipação do indivíduo, a liberdade da
pessoa… e o casamento já não se baseia na vontade alheia, mas na própria
escolha; começa-se pelo enamoramento, passa-se ao noivado e depois ao
casamento. Naquele tempo, estávamos todos convencidos de que este fosse o único
modelo certo e que o amor, por si mesmo, garantisse o «sempre», já que o amor é
absoluto, quer tudo e, consequentemente, também a totalidade do tempo: é «para
sempre». Infelizmente, não era assim a realidade: vê-se que o enamoramento é
lindo, mas talvez não sempre perpétuo, tal como o sentimento que não permanece
para sempre. Vê-se, pois, que a passagem do enamoramento ao noivado e, depois,
ao casamento requer várias decisões, experiências interiores. Como disse, é
lindo este sentimento do amor, mas deve ser purificado, deve seguir por um
caminho de discernimento, isto é, devem entrar também a razão e a vontade;
devem unir-se razão, sentimento e vontade. No rito do matrimónio, a Igreja não
pergunta: «Está enamorado?» Mas: «Quer…», «Está decidido…». Ou seja: o
enamoramento deve tornar-se verdadeiro amor, envolvendo a vontade e a razão num
caminho – o caminho do noivado – de purificação, de maior profundidade, de tal
modo que realmente o homem inteiro, com todas as suas capacidades, com o
discernimento da razão, a força da vontade, possa dizer: «Sim, esta é a minha
vida». Penso muitas vezes nas bodas de Caná. O primeiro vinho deixou-os
felicíssimos: é o enamoramento. Mas não dura até ao fim: deve aparecer um
segundo vinho, isto é, deve ferver e crescer, amadurecer. Um amor definitivo
que se torne realmente «segundo vinho» é mais lindo, é melhor do que o primeiro
vinho. E é isto que devemos procurar... Aqui é importante também que o eu não
fique isolado, o eu e o tu, mas que seja envolvida também a comunidade da
paróquia: a Igreja, os amigos… Tudo isto – a personalização plena e justa, a
comunhão de vida com os outros, com as famílias que se apoiam umas às outras –
é muito importante e só assim, neste envolvimento da comunidade, dos amigos, da
Igreja, da fé, do próprio Deus é que cresce um vinho que dura para
sempre. Muitas felicidades para ambos!
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/june/documents/hf_ben-xvi_spe_20120602_festa-testimonianze_po.html
Comentários
Enviar um comentário