"Sem a família não há
futuro". Esta afirmação drástica do secretário de Estado vaticano, cardeal
Tarcisio Bertone, foi a base do seu discurso na conferência "Família,
fator de crescimento", na célebre Sala da Loba no Palácio Montecitorio.
O cardeal convidou o poder
legislativo a "proteger a família", a garantir que os pais transmitam
aos filhos os seus valores morais e a "promover mais facilidades"
para os filhos que cuidam de pais idosos ou doentes. Promovido pelo Intergrupo
Parlamentar para a Subsidiariedade, a conferência foi uma oportunidade de
dirigir o olhar para o já iminente. Segundo o cardeal Bertone o tema do VII
Encontro Mundial das Famílias, a ser realizado em Milão de 28 de maio a 3 de
junho, "A Família: o Trabalho e a Festa", destaca "três aspetos
fundamentais da vida diária de cada pessoa", que dão origem a "dois
aspetos constitutivos da experiência humana: a unidade da pessoa e o seu estar-em-relação".
O trabalho, prosseguiu o secretário
de Estado, "deve ser protegido" porque "faz parte da pessoa
humana". A perda de emprego, de facto, "vai muito além da perda de
salário, porque vem muitas vezes acompanhada de crises de vida, envolvendo
família e ameaçando o equilíbrio".
A constituição da República
Italiana, conforme o cardeal recordou, eleva o trabalho "ao patamar de
dignidade e fundamento institucional da República". No entanto, ele
"pode escapar da regulação e ser causa de exploração ou alienação do
povo", chegando a privar o homem "do descanso, da comunhão familiar,
da dimensão festiva da família".
Trabalho-descanso-festa, continuou o
cardeal, são "fatores de coesão e crescimento social e interno da
família". Neste sentido, o trabalho "não pode ser vivido sem o aspeto
festivo" e sem o descanso, que "deve gozar de requisitos de
humanização e de ética para potencializar o bem-estar social".
O discurso do cardeal centrou-se
depois na família como "comunidade natural fundada no matrimónio, que a
Igreja sempre apresentou como lugar de encontro relacional, de enriquecimento
mútuo e de pacto entre gerações".
Há, porém, "alguns fatores
problemáticos da sociedade moderna" que determinam a urgência de proteger
esta célula fundamental. Entre eles, Bertone indicou "a primazia do
individual, a diferença relacional entre homens e mulheres a respeito do
passado, a clara separação entre o público e o privado como se a pessoa não
fosse sempre a mesma".
A família, no entanto, "não é
um bem à disposição da nossa vontade, como se pudéssemos manipulá-la de acordo
com os acontecimentos ou com a sensibilidade de cada momento".
O cardeal recordou a exortação
apostólica Familiaris Consortio, de João Paulo II, um precioso documento
de 1981 do Magistério da Igreja dedicado à família como "comunhão de amor
e de vida, baseada no matrimónio entre um homem e uma mulher".
"Na sua reciprocidade esponsal
frutífera", disse o secretário de Estado, o homem e a mulher são "uma
unidade dos dois", a quem Deus confiou "não só a procriação, mas o
próprio edifício da história", como escreveu João Paulo II em sua Carta
às mulheres, de 1995.
"A família é o lugar onde a
vida humana nasce e onde as crianças crescem e são educadas; lugar privilegiado
onde se adquirem os valores fundamentais da solidariedade, da responsabilidade
mútua e do compromisso abnegado para com o outro".
"A paz e a coesão social, tão
desejadas pela comunidade civil, se assentam sobre o fundamento da
família", acrescentou o cardeal, citando que a constituição italiana
declara: "A República reconhece os direitos da família como sociedade natural
fundada no matrimónio".
"Estruturas familiares boas,
portanto, são a maneira mais eficiente de garantir uma sociedade estável e
solidária", e, em seu apoio, o Estado deve dedicar "atenção especial
às medidas económicas e às leis e regulações ad hoc".
"É desejável que o sistema
jurídico proteja a família como instituto do bem comum do ser humano. Mesmo nas
dificuldades económicas atuais, [...] o compromisso do casal de apoiar-se, de
amar-se, de procriar e de educar os filhos deve ser reconhecido pelo Estado".
O cardeal voltou depois o pensamento
a outro ponto fundamental: o direito dos pais de educar seus filhos. "A
família é o lugar privilegiado da primeira e fundamental experiência do amor
que as crianças têm, ou pelo menos deveriam ter, com os seus pais", disse
ele. "Outras instituições apoiam esta missão, mas não podem substituí-la.
Portanto, é essencial que o Estado garanta aos pais a oportunidade,
especialmente na área ética e religiosa, de transmitir aos filhos os seus
valores morais".
Neste sentido, é fundamental o
direito à liberdade religiosa, "que garante, por parte das autoridades, o
respeito às crenças dos pais" e "não força a criança a ensinamentos
contrários a essas crenças". O mesmo vale para a educação sexual,
"que não pode ser limitada a simples fatores biológicos, mas deve incluir,
para ser verdadeiramente humana, os aspetos éticos, tendo em vista o pleno
exercício da responsabilidade".
Não só os pais, mas as crianças
também têm direitos, e "a Santa Sé está comprometida a protegê-los",
disse o cardeal. Primeiro, o direito de ter "um pai e uma mãe com quem
poder relacionar-se desde a infância; duas figuras complementares, que se amam
e amam os filhos, de modo a conquistar uma identidade clara e sólida, uma
personalidade madura e realizada".
"Nem todo desejo de ter um
filho é um direito", explicou o cardeal, referindo-se às discussões sobre
a adoção. "O bem da criança é fundamental em qualquer decisão", e
este princípio se aplica também à regulação "dos tristes casos de
separação de casais".
Referindo-se ao vínculo entre as
gerações, o cardeal mencionou a "geração dos avós, de todas aquelas
pessoas idosas que encontram na comunidade da família não só o apoio, mas
também o afeto, o respeito e a atenção que merecem".
"Numa sociedade em que não poucas
pessoas sofrem de solidão, não se deve esquecer a influência positiva dos laços
familiares fortes", disse o cardeal, acrescentando que é tarefa da
política "promover mais facilidades para os filhos que tomam conta de seus
pais, idosos ou doentes, reconhecendo o seu compromisso como uma contribuição
essencial para o bem comum".
O pensamento conclusivo foi voltado
às mulheres, "significativa e imprescindível presença na família",
graças à sua tarefa específica da maternidade. O perigo a ser evitado, disse o
cardeal, é que, "precisamente por serem mães, elas acabem penalizadas no
âmbito do trabalho". A verdadeira promoção da mulher "requer um
trabalho estruturado, de forma que ela não tenha que pagar o seu crescimento
profissional com o abandono da sua especificidade, em detrimento da família, na
qual ela exerce um papel insubstituível como mãe".
Salvatore Cernuzio, 25 de maio de
2012 (ZENIT.org)
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