Retiros para crianças: Ensinar o gosto por Deus

Não é habitual associarmos a palavra retiro a crianças. Pressupomos que um retiro é algo de muito sério e profundo, pouco adequado a crianças. Mas há experiências que mostram precisamente o contrário, como é o caso dos retiros para crianças na Casa de Santa Rafaela Maria, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em Palmela.

Estacionamos o carro e só ouvimos uma voz que fala no meio do jardim. Diz ser Zaqueu, o tal que era cobrador de impostos na história de Jesus, mas pouco mais se percebe. Só quando espreitamos através da sebe é que percebemos que “Zaqueu” não está sozinho. Com ele estão dezenas de crianças, cerca de 100, em silêncio. Sim, crianças em silêncio a ouvir alguém contar a história de Zaqueu, o cobrador de impostos. A Ir. Margarida Vaz Pinto é Escrava do Sagrado Coração de Jesus e encarna este personagem para pôr estas crianças a pensar como é que a «misericórdia de Deus funciona».
Este é um dos retiros que as irmãs organizam, a pedido de várias paróquias, para ajudar as crianças a prepararem-se para receber os sacramentos. Neste caso, as crianças preparam-se para a sua Primeira Comunhão.

A Casa de Santa Rafaela Maria é conhecida pela sua programação espiritual, que contempla vários encontros e retiros, normalmente para adultos. Mas esta opção pelas crianças levou-as a criar já cinco atividades anuais no seu programa, retiros que são «um dia de propostas dinâmicas, jogos, oração adaptada a cada idade, grupos de partilha de experiências para, de uma maneira diferente, passarmos uma mensagem». «Fazemos preparação para a Primeira Comunhão, para a Profissão de Fé e retiros temáticos, para conseguir abarcar crianças que não estão a preparar-se para as outras celebrações, e podem vir aproveitar um dia com Deus», explica a Ir. Margarida, que adianta que estas atividades são por norma preparadas pelas noviças e postulantes da congregação, o que dá um toque jovial ao retiro.

Ir. Margarida Vaz Pinto explica que tema deste ano é «quero ficar em tua casa».Ir. Margarida Vaz Pinto explica que tema deste ano é «quero ficar em tua casa».

No final da missa com que se concluiu o retiro, um menino da paróquia de Corroios, explicava-nos que gostou «muito das atividades». «Ajudou-me muito, porque comecei a perceber mais coisas sobre Jesus. Aprendi que temos de ser como Ele. Não vai ser fácil, mas acho que vou conseguir chegar lá perto», contava-nos com convicção e um sorriso nos lábios.
Ao seu lado estava uma menina, de 10 anos, que tinha vindo de Setúbal. «Gostei de tudo, mas o que gostei mais foi o jogo em que estávamos de olhos vendados e tínhamos de seguir o caminho bom», referiu, acrescentando que a história que tinha ouvido de Zaqueu lhe tinha mostrado que «não devemos ser maus, não temos de roubar nada, e temos de seguir o caminho bom de Jesus».
«Fazemos uma oração de contemplação com os miúdos, a partir da história de Zaqueu. Eles têm um folheto com três desenhos, e vamos contando a história de Zaqueu e eles têm de pôr-se no lugar de Zaqueu e desenham-se a eles próprios em cima da árvore, depois escrevem o que é que Jesus me diria a mim, e vemos como é que, no silêncio, eles conseguem imaginar. Finalmente, Zaqueu mudou a sua forma de viver, e perguntamos o que é que eles podem fazer, e saem coisas concretas muito interessantes, desde visitar a avó, a passar a pôr a mesa, é uma experiência rica e muito bonita. E eles partilham sempre, para se habituarem a que a nossa fé não é só para nós, é para os outros, e uma coisa que eu posso dizer pode ajudar outros. O que fazemos com adultos podemos fazer com crianças, desde que seja adaptado», sustenta a Ir. Margarida.

Mas voltemos ao retiro. Passou o momento de silêncio e andam todos numa correria de um lado para o outro, numa gincana à procura das moedas que Zaqueu roubou e que agora pretende devolver aos pobres, depois do seu encontro com Jesus. Enquanto o fazem preparam também um momento da Eucaristia com que se concluirá o dia e o retiro.
A partir de um jogo em que têm de escutar uma voz que os chama no meio de outras vozes disruptivas, as crianças trabalham o sentido de escutar o que é importante. «A partir do jogo, há uma reflexão, e é engraçado como eles percebem a dificuldade que foi ouvir a voz de Jesus e como às vezes há coisas bem mais aliciantes do que uma voz que me pede para ir pôr a mesa, em vez de ir jogar PlayStation», defende a religiosa.
 
 Texto e fotos: Ricardo Perna
 
Este é um excerto da reportagem que pode ler na íntegra na edição de junho DE 2018 da FAMÍLIA CRISTÃ.

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