«Arquitextura» das relações

"De entre todos os pedidos, os que nos custam mais são os mais simples,
aqueles imateriais e que se prendem com a arquitetura (ou arquitextura,
como ensinou Derrida) das relações: pedir amor, pedir desculpa,
pedir presença, conversa, compaixão."

Pe. José Tolentino Mendonça
- O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas

Temos imensa dificuldade em pedir aquilo que nos alimenta a vida. 
Existe, em nós, um tremendo medo em assumir que só nos completamos nas relações e que, para isso, precisamos de nos entregar. 
Por vezes temos de pedir e de experimentar o valor das relações.
É necessário perceber que não nos bastamos e que necessitamos sempre muito mais do que aquilo que existe em nós.
Precisamos de pedir, não de forma egoísta ou desesperada, aquilo que dá sentido a uma vida. 
Só pedindo, de forma humilde e simples, se pode receber o que de melhor existe no outro. 
É nesta vivência com o outro que não deixamos que os pedidos se percam no medo que nos assombra. 
É nesta experiência com o outro que vamos experimentando a audácia de não existirmos, nem de nos movermos solitariamente. 
E como é essencial que façamos este pedido! 
Urge, neste mundo que insiste em viver no medo e na insegurança, em caminharmos no sentido daquilo que sustenta todas as vidas: as relações.
É fundamental, nos dias de hoje, que o pedido, simples e sincero, faça renascer as ligações que enriquecem o maior dos pobres e que alimenta o maior dos ricos. 
Agora não nos convençamos que tudo isto surge do nada. Não nos convençamos que tudo isto acontece por trás de máscaras.
Se queremos relações à séria temos de, muitas vezes, amar sem que o outro seja merecedor desse amor.
Temos de estar onde muitas vezes não queríamos ir.
Temos de perdoar, mesmo não esquecendo o que nos fizeram, acreditando que a lógica do amor será sempre maior do que tudo. 
E temos, acima de tudo, de saber "calçar os sapatos dos outros" para que não fiquemos apenas no nosso mundo e saibamos experimentar aquilo que o outro vai sentindo e vendo.
Cabe-nos sermos verdadeiros pedintes desta imaterialidade que nos renova e nos convida a recebermos o outro de mãos abertas.
Cabe-nos sermos verdadeiros pedintes desta imaterialidade, para que nada mais nos falte.

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