Papa entoa hino de louvor às mães e recorda Oscar Romero

«Obrigado por aquilo que sois na família e por aquilo que dais à Igreja e ao mundo»

Cada pessoa humana deve a vida a uma mãe, e quase sempre deve a ela muito da própria existência que se segue ao nascimento, da formação humana e espiritual. A mãe, todavia, apesar de ser muito exaltada do ponto de vista simbólico (...), é pouco ouvida e pouco ajudada na vida quotidiana, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Assim, muitas vezes aproveita-se a disponibilidade das mães para se sacrificarem pelos filhos para “poupar” nas despesas sociais.
Acontece que também na comunidade cristã a mãe não ser sempre tida em conta na justa medida, é pouco ouvida. E contudo no centro da vida da Igreja está a Mãe de Jesus. Talvez as mães, prontas para tantos sacrifícios pelos próprios filhos, e não raramente pelos filhos de outros, deveriam encontrar mais escuta. Seria necessário compreender mais a sua luta quotidiana para serem eficientes no trabalho e atentas e afetuosas na família; precisar-se-ia entender melhor a que coisas aspiram para exprimir os frutos melhores e autênticos da sua emancipação. (...)
As mães são o antídoto mais forte para a difusão do individualismo egoísta. “Indivíduo” quer dizer “que não se pode dividir”. As mães, pelo contrário, “dividem-se”, a partir do momento em que hospedam um filho para o dar ao mundo e fazê-lo crescer. São elas, as mães, que maioritariamente odeiam a guerra, que mata os seus filhos (...). São elas a testemunhar a beleza da vida. O arcebispo Oscar Arnulfo Romero dizia que as mães vivem um «martírio materno». Na homilia de um funeral de um padre assassinado pelos esquadrões da morte, ele disse, baseando-se no Concílio Vaticano II:
«Todos devemos estar dispostos a morrer pela nossa fé, mesmo se o Senhor não nos concede esta honra... Dar a vida não significa só ser morto; dar a vida, ter espírito de martírio, é dá-la no dever, no silêncio, na oração, no cumprimento honesto do dever; naquele silêncio da vida quotidiana; dar a vida a pouco e pouco? Sim, como a dá uma mãe, que sem medo, com a simplicidade do martírio materno, concebe no seu seio um filho, dá-o à luz, amamenta-o, fá-lo crescer e cuida dele com afeto. É dar a vida. É martírio». (...)
Sim, ser mãe não significa só pôr um filho no mundo, mas é também uma escolha de vida, a escolha de dar a vida. (...) Uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral.
As mães transmitem também muitas vezes o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende, está inscrito o valor da fé na vida de um ser humano. É uma mensagem que as mães crentes sabem transmitir sem muitas explicações: estas chegam depois, mas o germe da fé está nesses primeiros, preciosíssimos momentos. Sem as mães, não só não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. (...)
Caríssimas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e por aquilo que dais à Igreja e ao mundo. (...)
[Na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Francisco disse:] Amados peregrinos de língua portuguesa, agradecido pelos votos e preces dirigidas a Deus por mim durante as festividades do Natal, de todo o coração desejo a todos um feliz Ano Novo, pedindo a Nossa Senhora, Mãe de Deus e da Igreja, que seja a estrela que protege a vida das vossas famílias. Que Deus vos abençoe!
Papa Francisco 
Audiência geral, Vaticano, 7.1.2015 

Trad. / edição: Rui Jorge Martins
in http://www.snpcultura.org/papa_entoa_hino_de_louvor_as_maes_e_recorda_oscar_romero.html

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