Beleza, amor e vida

«A glória não é outra coisa que a beleza; a beleza não é outra coisa que o amor; o amor não é outra coisa que a vida. Portanto, se queres viver, ama. Se amas, és belo. Se esta beleza te falta, então não vives, tens só a aparência da vida, mas não vives dentro de ti.»


Ao domingo proponho geralmente textos mais especificamente espirituais, até porque imagino que, depois de uma semana de acontecimentos e palavras, haja em todos a necessidade de um oásis de silêncio.

O teólogo Hans Urs von Balthasar dizia que «em todas as religiões há quase um incómodo com as palavras e um fascínio pelo silêncio. Hoje deixo que nos ajude a refletir Santo Agostinho com um passo do seu Sermão 365.

É verdadeiramente admirável a trama que ele entretece entre beleza, amor e vida, uma trilogia que, se rompida, perde o seu sabor, a sua grandeza, o seu encanto, a sua energia vital.

Quando alguém ama, produz por si próprio quase uma luz e vive as suas horas como se fossem fragmentos de eternidade. Isto não vala apenas para o enamoramento, mas também para as escolhas autênticas da existência.

Se um sacerdote ama verdadeiramente Deus e a sua missão, aqueles que o encontram apercebem-se que dele emana uma beleza interior e uma vitalidade misteriosa. Um pai que a ama o seu filho brilha com um esplendor particular, e a sua vida, ainda que repleta de fadigas, é marcada pela confiança.

Não é por acaso que o panorama dominante do livro bíblico do Cântico dos Cânticos, poema do amor, seja a primavera, ainda que no Oriente constitua uma estação quase inexistente.

Quem ama vive na frescura, nas cores e nos perfumes primaveris, ainda que se encontre numa sombria cidade industrial. Se a luz do amor se extinguir, então, como evoca Agostinho, já não se trata de viver, mas de sobreviver.

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]
 
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